terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Castiçal «Anjo» - Hansi Staël - SECLA

A artista de origem húngara Hansi Staël (1913-1961) iniciou em 1950 a sua colaboração com a SECLA, nas Caldas da Rainha, a convite do sócio maioritário Fernando da Ponte e Sousa (1902-1990). Fundadora do Estúdio SECLA, foi responsável pela actualização e adequação da produção da fábrica ao contexto internacional.
Chegada a Portugal em 1946, após permanência em Estocolmo durante a Guerra, onde trabalhou em ilustração, design têxtil e de objectos, entre outros para o armazém sueco Svenskt Tenn, Staël, que viajara bastante pelo centro da Europa durante o período entre as Guerras, tinha um espírito cosmopolita e estava a par das mais recentes tendências do design cerâmico internacional.
O seu trabalho revela influências directas da produção tradicional e moderna escandinava mas também da italiana que bem conhecia, sobretudo na pintura manual com uso de tintas de água. Aproxima a pintura cerâmica da técnica da aguarela que muito apreciava, registo onde sentia à-vontade e em que era tecnicamente fluente.
A espontaneidade da pintura a aguarela aliada a uma figuração de clara raiz escandinava, estão na origem das peças que hoje publicamos. O castiçal «Anjo», modelo P. 709, do qual mostramos alguns exemplares, faz parte de um vasto conjunto de peças para a produção corrente, criadas por Staël durante a década de 50, a serem reproduzidas por molde e diferenciadas com detalhes aplicados e pintura manual.



Hansi Staël - Castiçais «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, c.1955. © CMP


Hansi Staël - Castiçais «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, c.1955. © CMP


Hansi Staël - Castiçais «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, c.1955. © CMP


Hansi Staël - Castiçais «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, c.1955. © CMP



Hansi Staël - Castiçais «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, c.1955. © CMP


Durante a década de 30, um pouco por toda a Europa, recuperam-se elementos nacionalistas e regionalistas vindos das tradicionais artes e ofícios que, apropriados pela propaganda ou integrados na produção em série, servem a divulgação da imagem das várias nações em exposições internacionais.
Na Escandinávia está em curso um movimento de renovação do design e das artes decorativas que virá a consolidar-se após a Segunda Guerra como um dos mais influentes a nível mundial.
Hansi Staël, cuja formação artística se fez entre as Academias de Viena e Budapeste, aplica os seus conhecimentos à indústria, tomando opções inéditas em Portugal. Enceta na produção industrial uma relação entre artes e ofícios que dará frutos mesmo após a sua saída definitiva da fábrica em 1959, influenciando outras fábricas da região das Caldas e Alcobaça.



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, c.1955. © CMP


Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, marcas de fábrica. © CMP


Estas peças estão assinadas "F.S.", a sigla do jovem Luís Ferreira da Silva (n.1928), que ingressa na SECLA em 1954. É contratado como pintor, trabalhando directamente com Hansí Staël enquanto encarregado da secção de pintura. Inicialmente as suas funções estavam restritas à reprodução de motivos decorativos criados por outros, em especial Staël, no entanto, a afirmação gradual das suas competências, permite-lhe dedicar-se também à criação de motivos decorativos.
Entretanto, continua a desenvolver actividade como artista plástico e em 1957 concorre à Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, recebendo críticas que lhe garantem alguma visibilidade como escultor. Apesar disso, a sua actividade criativa dentro da unidade fabril continuava bastante limitada o que o leva a interromper temporariamente a colaboração com a SECLA em 1958, regressando mais tarde para fundar o chamado "Curral", onde desenvolverá um importante corpo de trabalho, assistido pelo oleiro rodista Guilherme Barroso.
Assim se justifica a opção pela datação aproximada destas peças em c.1955, sendo certamente posteriores a 1954 e muito provavelmente anteriores as 1957.


Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, c.1955. © CMP



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP


Tal como na cerâmica escandinava e em muitos outros casos na produção europeia desta época, os motivos ornamentais e os padrões decorativos são inspirados nos têxteis e nas rendas e bordados tradicionais.
Neste caso os elementos ornamentais usados são recriados a partir dos bordados de Viana do Castelo.
Como podemos observar, as vestes do anjo são decoradas na zona posterior com uma representação gráfica do bordado a crivo.



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP



Detalhe de bordado de Viana do Castelo com elementos em crivo.

Linhas ondulantes e espirais, pontuadas por elementos repetitivos em forma de folha ou de lágrima, obedecem a composições centralizadas, sempre organizadas segundo um eixo de simetria. A paleta de cores primárias e secundárias é combinada com o branco e o preto.


Algibeira, primeira metade do Séc. XX, MAP e Colete feminino, 1938,  Museu N. Traje.


Na zona frontal das vestes aparecem representados dois corações lado a lado contendo a palavra "AMOR", elemento comum nos bordados ornamentais dos chamados Lenços de Amor, típicos das tradições folclóricas do Alto Minho.



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP


Lenço de Amor, Viana do Castelo, Séc. XX, Museu de Arte Popular.



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, marcas de fábrica. © CMP



O exemplar abaixo, de pendor menos regionalista, apresenta uma decoração sintética e abstracta com uma paleta de cores reduzida, representando uma figura de cabelos louros, sem dúvida de aparência nórdica. 
O carácter internacionalista destas peças justifica-se pelas características dos mercados, já que a sua maioria se destinava a exportação.



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, c.1955. © CMP



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP



Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, detalhe. © CMP


Hansi Staël - Castiçal «Anjo», pintura de Ferreira da Silva, SECLA, marcas de fábrica. © CMP



No antigo museu da SECLA, situado numa dependência contígua à loja da fábrica, figuravam dois modelos P. 709, na imagem com a numeração 103 e 104. Segundo as informações que constavam nas respectivas legendas, são ambos modelados em pasta branca, com pintura a tintas de água. O 103 está assinado Staël e o 104 está assinado H.E. (Herculano Elias) com Staël e deverá ser datado da segunda metade da década de 50.


Hansi Staël - Castiçais modelo P. 709, antigo museu da SECLA. © CMP


Herculano Elias (n.1932), descendente de uma importante linhagem de ceramistas das Caldas da Rainha, ingressou como aprendiz na unidade fabril que viria a dar origem à SECLA logo na sua fundação, em 1945,  ainda sob a designação Fábrica de Cerâmica Mestre Francisco Elias, adoptada em homenagem ao seu tio-avô, criador da tradição caldense de miniaturas em barro.
A actividade de Herculano Elias na SECLA sofre um interregno entre 1947 e 1955, para formação como miniaturista e conclusão do curso de modelador cerâmico na Escola Industrial e Comercial Rafael Bordalo Pinheiro, entre outras actividades. De regresso à fábrica, colaborará directamente com Hansi Staël na modelação de vários murais, iniciando produção de cerâmica de autor em 1957. Mais tarde, em 1970, será o criador do gabinete de desenho e modelação para a execução de modelos de peças para exportação, sendo autor de muitos dos conhecidos padrões relevados que caracterizam a produção da SECLA na década de 70.
Abaixo podemos ver uma variação decorativa do exemplar assinado por Herculano Elias, apenas marcada "F.", inicial do pintor, cuja identidade desconhecemos.


Hansi Staël - Castiçal «Anjo», SECLA, c.1955. © Cristina Martins/Memórias da Secla


Hansi Staël - Castiçal «Anjo», SECLA, marcas de fábrica. © Cristina Martins/Memórias da Secla


Num catálogo de fábrica, da década de 50, o modelo P. 709 aparece descrito como Castiçal «Anjo» com altura aproximada de 16,5 cm .


Castiçal «Anjo», modelo P.709, imagem retirada de uma cópia de um catálogo de fábrica, Anos 50.



Este modelo, como pode verificar-se nas imagens abaixo, poderia incluir uma base de formato anelar que funcionaria como floreira.
A peça está assinada pela autora, como habitualmente acontece com os modelos.
Peças reproduzidas em série a partir dos modelos, poderão aparecer marcadas com a sigla do respectivo pintor seguida de "c/Staël", no entanto é também vulgar encontrarem-se outro tipo de marcações, como se comprova nos exemplares aqui publicados.



Hansi Staël - Castiçal modelo P. 709, "Modelo". © José Sequeira.



Hansi Staël - Castiçal modelo P. 709, "Modelo", assinatura. © José Sequeira.


Staël criou para a SECLA vários modelos de castiçais antropomórficos, representando figuras de anjo e outras. Como já referimos este tipo de castiçais é comum na produção tradicional escandinava, tendo sido igualmente recuperado por vários ceramistas nórdicos e adaptado a uma linguagem moderna.
Seguidamente mostramos alguns exemplos de origem dinamarquesa, da autoria de Bjørn Wiinblad (1918-2006), Lars Syberg (1903-1974) e da fábrica Hjorth.




Bjørn Wiinblad - castiçal em forma de anjo, 1988. Etsy


Bjørn Wiinblad é um reconhecido designer, ilustrador e ceramista dinamarquês. A sua produção é marcada por uma figuração bem humorada, plena de detalhes inspirados nos antigos elementos ornamentais de tradição escandinava. 
As figuras criadas por Wiinblad, ostentam habitualmente trajes de fim de século com decorações rebuscadas, muitas vezes compostas por elementos vegetalistas de registo complexo, aproximando-se do psicadelismo.
Para além das peças criadas em atelier próprio, Wiinblad desenhou peças para a fábrica dinamarquesa Nymolle e posteriormente celebrizou-se como designer para a fábrica de porcelana Rosenthal, concebendo inúmeras peças para a Studio-Linie, a linha de desenho de autor desta marca.



Bjørn Wiinblad - castiçal antropomórfico, 1977. Etsy


A fábrica de cerâmica Hjorth foi fundada em 1859 por Lauritz Adolph Hjort (1834-1912), em Ronne, a maior cidade da ilha de Bornholm, no Mar Baltico.
Inicialmente Lauritz Hjorth dedicou-se à criação de peças utilitárias, como jarros para água ou leite e a partir de 1862, centra-se na produção de objectos decorativos, jarras e figuras, recuperando a gramática ornamental da velha tradição escandinava. Esta produção foi abundantemente apresentada nas Exposições Mundiais, tornando-se bastante conhecida e comercializada internacionalmente.



Fábrica de cerâmica Hjorth - Par de castiçais em forma de anjo. Jamerantik



O dinamarquês Lars Syberg descende de uma família de ceramistas responsável pela modernização dos objectos de produção artesanal tradicional, adaptando-os ao quotidiano.
Concebeu inúmeros castiçais antropomórficos com pequenas variações entre si, aproximando a produção artesanal da produção em série.



Lars Syberg - castiçal antropomórfico. Etsy



CMP* agradece a todos os que durante o ano de 2013 participaram e colaboraram neste projecto de investigação e divulgação, desejando a todos um excelente 2014, repleto de novas descobertas.

Um agradecimento especial ao coleccionador José Sequeira, pela cedência de imagens de peças das suas colecções, à coleccionadora Cristina Martins, autora da página Memórias da Secla, à escultora e designer Marta Lucas e ao Pelouro da Cultura da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, em especial ao Director do Centro de Artes, José Antunes, pela disponibilidade e colaboração, sem as quais não seria possível a corrente publicação. 



terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Jarro, copos e jarra - OAL | Olaria de Alcobaça

A Olaria de Alcobaça Lda. nasce em 1927, fundada por Silvino da Bernarda que deixa a fábrica de cerâmica Raul da Bernarda, gerida por seu pai Manuel Ferreira da Bernarda, juntando-se a António Vieira Natividade (1896-?) e Joaquim Vieira de Natividade (1899-1968) na criação de uma nova unidade fabril.
A Olaria instalou-se na Rua Costa Veiga em Alcobaça e durante o primeiro ano de laboração a sua produção foi de cerca de uma fornada mensal. Nos primeiros tempos a OAL desenvolve uma gramática decorativa baseada em motivos típicos da produção nacional dos séculos anteriores, conjugando-os de forma inovadora. Inventa uma linguagem própria contribuindo para a criação da identidade daquela que mais tarde vem a ser conhecida como louça artística de Alcobaça.
Em 1935, coze a centésima fornada de loiça, contando-se já a existência de cinco marcas diferentes desde a sua fundação. Em 1940, ano em que realiza a duocentésima fornada, a OAL regista em cerâmica acontecimentos marcantes, como a Exposição do Mundo Português e as Comemorações do Duplo Centenário, perfeitamente alinhada com gosto vigente durante o Estado Novo.
Embora durante as décadas de 30 e 40, tenha aberto a sua produção a peças de cariz mais popular e às tendências Art Déco, será após a Segunda Guerra Mundial que se modernizará estilisticamente, cedendo às influências internacionais.
Em 1953, Luis Ferreira da Silva (n.1928) passa pela Olaria trabalhando como pintor, é aqui que enceta as primeiras experiências de ruptura com a produção tradicional da região. Nesta época começa também a fazer-se sentir em Alcobaça a renovação da linguagem decorativa proposta nas Caldas da Rainha pela SECLA, em especial pelo trabalho da artista húngara Hansi Staël (1913-1961), então na direcção artística da fábrica. Uma aparente espontaneidade do traço, conjugada com motivos abstractos de geometria livre e cores luminosas, faz-se notar nas decorações criadas por Staël para a produção corrente da SECLA. Alguns exemplares deste tipo de decoração já foram mostrados aqui e aqui.



OAL | Olaria de Alcobaça - conjunto de jarro e copos, Anos 60. © CMP



OAL | Olaria de Alcobaça - conjunto de jarro e copos, Anos 60. © CMP


O conjunto de jarro e copos agora apresentado terá sido produzido pela OAL durante a década de 60, sendo um bom exemplo da abertura da produção de Alcobaça às tendências e mercado internacionais. 
Estas peças em faiança, de formato tronco-cónico invertido, com o exterior vidrado a branco leitoso e riscado verticalmente a lápis cerâmico, foram produzidas em conjuntos compostos por varias unidades, cujos interiores são vidrados com diversas cores planas e vivas. 
As decorações com lápis cerâmico são pouco comuns na produção portuguesa desta época, aparecem por influência italiana, sobretudo em algumas fábricas da região de Alcobaça, como é o caso da Raul da Bernarda que, durante os Anos 50 e 60, fabrica vários modelos muito próximos da produção italiana da região do Sesto Fiorentino. 
Este tipo de produção satisfaz um mercado mais jovem, ansioso por peças de desenho moderno, funcionais e de baixo custo, adaptando-se facilmente às necessidades quotidianas.



OAL | Olaria de Alcobaça - conjunto de jarro e copos, Anos 60. © CMP



OAL | Olaria de Alcobaça - conjunto de jarro e copos, tardoz. © CMP



OAL | Olaria de Alcobaça - copo, tardoz. © CMP


OAL | Olaria de Alcobaça - copo, tardoz. © Sílvia Jardim


Estas peças, embora relativamente vulgares, já que foram produzidas em larga escala, raramente aparecem com a marca de fábrica. O que se justifica pelo facto de terem sido em muitos casos fabricadas para serem distribuídas como brindes de marcas de produtos alimentícios, como veremos abaixo.
A decoração com lápis cerâmico introduz uma sensação de proximidade com o utilizador, criando a ilusão de que qualquer um poderia executá-la, como se resultasse do riscar de uma criança. A textura visual deste tipo de grafismo é simultaneamente subtil, delicada e informal, tornando-se sedutora pela aparente fragilidade e irregularidade. 
Neste tipo de decoração de rápida execução, pode constatar-se que a riqueza da pintura manual, por oposição à decalcomania, reside nas suas falhas, pequenas diferenças que conferem a cada peça um carácter único, uma marca humana.




OAL | Olaria de Alcobaça - copos, Anos 60. © CMP


OAL | Olaria de Alcobaça - copo, detalhe. © CMP


OAL | Olaria de Alcobaça - copo, detalhe. © CMP



OAL | Olaria de Alcobaça - copos, Anos 60. © CMP


OAL | Olaria de Alcobaça - jarro, Anos 60. © CMP


OAL | Olaria de Alcobaça - jarro, Anos 60. © CMP


OAL | Olaria de Alcobaça - jarro, detalhe. © CMP


OAL | Olaria de Alcobaça - jarro, detalhe. © CMP


OAL | Olaria de Alcobaça - jarro, detalhe. © CMP


Algumas variações de cores:


OAL | Olaria de Alcobaça - conjunto de jarro e copos, Anos 60. © PMC



OAL | Olaria de Alcobaça - conjunto de jarro e copos, Anos 60. MdS Leilões


Após a Segunda Guerra Mundial, em período de retoma económica e reconstrução da Europa foi necessário criar novos hábitos de consumo, extintos pelos constrangimentos impostos pela Guerra. A publicidade torna-se uma indústria, tomando para si essa missão. À cor e grafismo apelativos alia-se o sentido de humor, todos os recursos são válidos para fazer face à concorrência e afirmar novos produtos no mercado.
Diversas marcas apelavam ao espírito lúdico das donas de casa, publicitando os seus produtos nas revistas femininas, propunham brindes coloridos modernos e funcionais. De produção barata e pouca qualidade nos acabamentos, estes objectos eram muitas vezes desenhados propositadamente, outras aproveitavam linhas já em produção.
Detergentes como o Sunil, o Juá ou o Sonasol, chocolates em pó para misturar no leite como o Milo, o Toddy ou o Ovomaltine, ofereciam como brindes peças utilitárias de vidro, porcelana, faiança ou esmaltes. Estas peças povoaram as cozinhas portuguesas durante anos, tachos e panelas de esmaltes coloridos, louça da SECLA, copos e chávenas de vidro resistente e barato, peças de porcelana que compunham serviços que se iam completando coleccionando cupões ou tampas retirados das embalagens dos respectivos produtos, dados à troca por cada uma das peças.



Publicidade ao leite em pó Pensal, campanha de brindes, Anos 60.



A multinacional Nestlé, detentora de várias marcas de grande distribuição em Portugal, irá adoptar este conjunto produzido pela OAL, como brinde do leite em pó Pensal, um dos seus produtos com maior sucesso.
Acima podemos ver exemplos de publicidade da marca em publicações da época e abaixo reproduzimos um desdobrável da mesma campanha, contendo sugestões de receitas possíveis de executar com este produto e informando-nos que para obter as referidas peças de faiança seriam necessárias "5 tampas e 22$50", no caso do jarro e "2 tampas e 5$00" para cada copo. Assim este conjunto terá sido abundantemente difundido, entrando no lar de muitos portugueses, tornando-se parte do quotidiano e povoando as suas memórias.



Folheto publicitário da campanha de brindes do leite em pó Pensal, Anos 60. © Sílvia Jardim


Folheto publicitário da campanha de brindes do leite em pó Pensal, Anos 60. © Sílvia Jardim


Folheto publicitário da campanha de brindes do leite em pó Pensal, Anos 60. © Sílvia Jardim



Folheto publicitário da campanha de brindes do leite em pó Pensal, Anos 60. © Sílvia Jardim



Como já referimos, estas peças raramente estão marcadas com a sigla OAL, sendo frequente aparecerem sem marca, o que tem causado dificuldades de identificação, gerando equívocos.
Algumas das peças distribuídas como brindes eram vulgarmente marcadas com o nome do produto ou da empresa a que estavam associadas, não estando identificada a fábrica. Assim, neste caso, por vezes aparecem marcadas "Nestlé", como se verifica no exemplar abaixo reproduzido.



OAL | Olaria de Alcobaça - jarro, Anos 60. © CC


OAL | Olaria de Alcobaça - jarro, marca da Nestelé. © CC


Acrescentamos a esta publicação uma peça não marcada, aparentemente da mesma proveniência, já que utiliza o mesmo tipo de pasta calcítica, os mesmos vidrados e decoração a lápis cerâmico.
Uma jarra de formato tronco-cónico arredondado e invertido, com o interior azul, cujo exterior, vidrado a branco, é riscado verticalmente a lápis cerâmico.
Gostaríamos não só de saber a proveniência desta jarra como de conhecer outras peças com as mesma características.


OAL | Olaria de Alcobaça (?) - jarra, Anos 60. © Joel Paiva


OAL | Olaria de Alcobaça (?) - jarra, Anos 60. © Joel Paiva


OAL | Olaria de Alcobaça (?) - jarra, detalhe. © Joel Paiva


OAL | Olaria de Alcobaça (?) - jarra, tardoz. © Joel Paiva



CMP* agradece aos coleccionadores Sílvia Jardim, Catarina Cardoso, Joel Paiva e PMC, a colaboração e cedência de imagens de peças das suas colecções.