sábado, 24 de dezembro de 2011

SECLA para Holt Howard

Após a Segunda Guerra Mundial, com a reconversão das indústrias, os Estados Unidos da América dão início a uma nova era dominada pelo consumo.
Na década de 50, em pleno advento do consumismo, as decorações de Natal e outros objectos associados a esta quadra festiva começaram a ser produzidos em massa, presentes para crianças e adultos, são indispensáveis na decoração das novas casas das famílias de classe média, nos subúrbios das grandes urbes.
A Holt Howard, que chegou a ser uma das maiores companhias de importação nos EUA,  nasceu em 1949, com a retoma económica após a Segunda Guerra Mundial.
Começou como uma pequena empresa, fundada por três amigos que se haviam conhecido enquanto estudantes em Amherst, Massachusetts. Os irmãos John e Robert Howard e Grant Holt estabeleceram-se num apartamento em Manhattan, Nova Iorque. Com o capital de nove mil dólares emprestado pelos pais, conceberam uma pequena empresa onde cada um desempenhava funções específicas, Robert Howard estava encarregado do desenvolvimento de produto, o seu irmão John era responsável pela gestão de vendas, enquanto o departamento financeiro ficava a cargo de Grant Holt.
Inicialmente todos os seus produtos eram fabricados nos Estados Unidos,  concentrando-se sobretudo na criação de produtos Natalícios,  que imediatamente se tornaram um enorme sucesso.


Holt Howard - detalhe de embalagem de produtos natalícios. © CMP


A companhia continuou a crescer e os custos de produção nos EUA tornaram-se incomportáveis. Para resolver este problema, Robert Howard viajou até ao Japão, onde celebrou contratos com várias manufacturas locais.  
No final dos Anos 50 a maior parte dos produtos Holt Howard comercializados na América eram já fabricados no Japão. 
Com a continuação do crescimento da companhia, foram assinados contratos com outras fábricas, em mais de vinte países da Ásia à Europa.
A SECLA terá começado a fabricar produtos Holt Howard por via da John E. Buck & Co., a companhia responsável pela produção e distribuição da marca, tanto no Reino Unido, onde após a Guerra não era permitido por lei fazer importações do Japão, como no resto da Europa.
Estas peças, marcadas SECLA PORTUGAL, exibiam uma etiqueta autocolante com o duplo H da Holt Howard e apareciam nos catálogos da companhia britânica. 
A fábrica portuguesa terá sido contactada para colmatar as necessidades de produção para o mercado inglês, produzindo peças com características específicas para esse mercado, como os mealheiros da série Cozy Kitten, adaptados à moeda do Reino Unido.



Holt Howard - Mealheiro Coin Kitty, SECLA, 1962. © CMP

Holt Howard - Mealheiro Coin Kitty, SECLA, 1962. © CMP

Holt Howard - Mealheiro Coin Kitty, SECLA, 1962. © CMP

Holt Howard - Mealheiro Coin Kitty, SECLA, 1962. © CMP

Marca de fábrica - SECLA, Portugal. © CMP

Holt Howard - Mealheiro Sixpenny Kitty, SECLA, 1962. © CMP

Holt Howard - Mealheiro Sixpenny Kitty, SECLA, 1962. © CMP

Holt Howard - Mealheiro Sixpenny Kitty, SECLA, 1962. © CMP

Marca de fábrica - SECLA, Portugal. © CMP

Holt Howard - Mealheiros Cozy Kitten, SECLA, 1962. © CMP

Holt Howard - Mealheiros Cozy Kitten, SECLA, 1962. © CMP


Holt Howard - Suporte para bloco de notas, SECLA, 1960. © CMP


Holt Howard - Suporte para novelo de fio, Japão, 1958. eBay



A série Cozy Kitten, uma das de maior sucesso nos EUA, consiste num sem-número de objectos em forma de pequenos gatos (antepassados da famosa linha Hello Kitty, criada no Japão em 1974), destinados a desempenhar as mais variadas funções. 
Os mealheiros desta série foram introduzidos no mercado inglês com especificações, o Coin Kitty  conserva o típico boné de xadrez mas acrescenta o símbolo da Libra Esterlina no lenço à volta do pescoço e o Sixpenny Kitty  foi especialmente concebido para a moeda inglesa. Estes objectos apareceram pela primeira vez no catálogo de Natal da John E. Buck & Co. em 1962.
Para o mercado inglês foram também produzidos pela SECLA, entre outras coisas, uma tábua para queijo (1961), um suporte para novelo de fio (semelhante ao reproduzido acima, de fabrico japonês) e um suporte para bloco de notas, o Memo Minder, que vinha acompanhado de um pequeno caderno e de um lápis azul e podia pendurar-se na parede.
Muitas outras peças aparecem com a marca da SECLA e as etiquetas - redondas ou rectangulares - HH Portugal. Desde os clássicos itens de Natal, até toda uma variedade de peças decorativas e utilitárias.




Holt Howard - Pequeno prato, SECLA, Portugal. © CMP



Holt Howard - Pequeno prato, SECLA, Portugal. © CMP


Holt Howard - Cinzeiro, SECLA, Portugal. © CMP

Holt Howard - Mealheiros Cats-Cozy Kitten e pequeno prato, SECLA, Portugal. © CMP

Etiquetas HH Portugal e HH Japan. © CMP

Etiquetas HH Portugal e HH Japan. © CMP

Holt Howard - Saleiro e pimenteiro, Japão. eBay

Saleiro e pimenteiro da linha Cozy Kitten, de fabrico japonês, com 11,5 cm de altura, têm incorporado um dispositivo sonoro. Ouve-se o som do miar do gato quando se invertem os contentores durante a utilização. O mesmo acontece com outros saleiros e pimenteiros da marca, com formas e sons de outros animais.


Holt Howard - cabide, Japão, 1960. eBay

Holt Howard - caixa com fita métrica, Japão, 1958. eBay

Holt Howard - suporte para cachimbo e fósforos, Japão, 1959. eBay

Holt Howard - contentor para pó de limpeza, Japão, 1959. eBay

Holt Howard - suporte para cartas, Japão, 1958. eBay

Holt Howard - suporte para guardanapos, Japão, 1958. eBay

Holt Howard - leiteira e açucareiro, Japão, 1959. eBay

Holt Howard - cinzeiro, Japão, 1958. eBay

Holt Howard - jarra, Japão, 1958. eBay

Os gatos povoam o imaginário de uma década, vêm do universo do cinema de animação e dos comics, ilustrando todo o género de objectos. 
A expressão Kool Kat, define tudo o que é hip, da música à moda, estabelecendo novo um parâmetro no calão juvenil americano.

ACE Records - capa da colectânea de singles das décadas de 50 e 60, Feline Groovy.


A Holt Howard representa a quintessência da produção de cute novelty items na década de 50, nos EUA, sendo responsável pela invenção de alguns dos ícones da época, como a linha Pixieware, actualmente uma das mais coleccionáveis. Algumas das peças mais raras desta linha são as produzidas para o mercado australiano, como o conjunto para hors-d'oeuvre, abaixo reproduzido.

Holt Howard - prato para hors-d'oeuvre Pixieware, 20 cm. eBay

Holt Howard - conjunto para hors-d'oeuvre Pixieware. eBay



Responsável pela concepção de diferentes canecas para o uso quotidiano, é também atribuída à Holt Howard a invenção deste conceito, uma vez que, até aí, o uso da caneca avulso não fazia parte dos hábitos dos lares americanos.
Mito ou realidade, de facto a empresa concebeu canecas para todas as ocasiões, muitas foram fabricadas pela SECLA, sendo distribuídas tanto no mercado americano como britânico. Outras, fabricadas no Japão, demonstram semelhanças evidentes com muitos dos modelos que a fábrica portuguesa produziu na década de 60.


Holt Howard - canecas de Natal, 1962, Japão. eBay

Holt Howard - caneca, Japão, 1965. eBay


Holt Howard - caneca, Japão, 1966. eBay

Holt Howard - caneca, SECLA, Portugal, Anos 60. © CMP

Holt Howard - etiqueta. © CMP


Aparentemente, de entre os produtos fabricados pela SECLA e distribuídos nos EUA pela Holt Howard, nem todos teriam sido concebidos pela empresa americana. 
O saleiro e pimenteiro em forma de bolota, abaixo reproduzidos, são bons exemplos de como as típicas peças de cerâmica das Caldas da Rainha chegaram ao mercado americano com a etiqueta HH Portugal.


Holt Howard - saleiro e pimenteiro, SECLA. eBay



Outras firmas importadoras foram responsáveis por produtos similares aos desenvolvidos pela Holt Howard, como a Davar ou a Lefton, providenciando a concorrência necessária ao crescimento da empresa, que continuou em franco desenvolvimento até 1968, quando foi comprada pela General Housewares. Os três sócios originais abandonaram então a companhia, pondo termo à designação Holt Howard e a duas décadas de sucesso que marcaram a cultura popular americana.







terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Jarra - Sociedade de Porcelanas de Coimbra

A Sociedade de Porcelanas de Coimbra foi  presumivelmente fundada em 1922, com concessão de alvará em 1924, tendo encerrado definitivamente no final de 2005. 
Mais conhecida pelo uso da marca Coimbra S.P., inicialmente o seu logótipo consistia num círculo cujas figuras centrais citavam as Armas da cidade de Coimbra, como pode ver-se nas imagens abaixo reproduzidas.
Em 1936 atravessou momentos de grande fragilidade económica, tendo sido adquirida em parceria pela Fábrica de Porcelana da Vista Alegre e pela Empresa Electro-Cerâmica do Candal.
No final da Segunda Guerra Mundial, a Vista Alegre adquire também a Electro-Cerâmica do Candal, passando então a ser a única proprietária da Sociedade de Porcelanas de Coimbra.
Mesmo assim, a fábrica mantém  produção independente, continuando a usar a marca Coimbra S. P., que a partir do final da década de 60, aparece  muitas vezes justaposta à marca da Vista Alegre.


Brasão de Armas da cidade de Coimbra. © CMP



Duas das marcas usadas pela Sociedade de Porcelanas de Coimbra: a primeira durante as décadas de 20 e 30; a segunda até final dos Anos 60. © CMP



A jarra abaixo reproduzida, datando provavelmente das décadas de 50 ou 60, mede 9 cm por 4 cm e exibe a marca Coimbra S.P., introduzida ainda antes de 1945.
Com uma estrutura geométrica irregular, explora o contraste entre as superfícies planas pretas e brancas, remetendo para as propostas mais puristas do Modernismo, quer os planos dinâmicos do Cubismo Checo, quer as propostas mais minimalistas de produção alemã.


Sociedade de Porcelanas de Coimbra - Jarra. © HPS

Sociedade de Porcelanas de Coimbra - Jarra. © HPS

Sociedade de Porcelanas de Coimbra - Jarra. © HPS

Sociedade de Porcelanas de Coimbra - Jarra. © HPS

Sociedade de Porcelanas de Coimbra - Jarra. © HPS

Sociedade de Porcelanas de Coimbra - Jarra, detalhe. © HPS


Marca de fábrica, Coimbra S. P. © HPS

Embora a datação da peça seja imprecisa, a aproximação às influências da Arte Op no design e nas artes decorativas é evidente. 
Os jogos ópticos a preto e branco são utilizados por várias fábricas europeias, tanto no desenho de objectos utilitários, como em objectos decorativos.
A título de exemplo ficam algumas figuras femininas da autoria do escultor polaco Henryk Jędrasiak, produzidas pela Ćmielów, Polónia. 
Esta centenária fábrica de porcelanas, sobrevivente a duas guerras mundiais, viveu momentos de enorme liberdade criativa, após a morte de Josef Stalin (1878-1953), tal como toda a produção cultural nos países de leste, dominados pela União Sovética.
Nestas peças, Rapariga Lavando o Cabelo (1959), 18,5 cm, Rapariga com Jarro (1965), 21 cm e Rapariga em Descanso (1965), 10 cm por 18,5 cm; os efeitos ópticos são criados a partir de linhas a negro sobre o fundo branco, sublinhando os movimentos dos corpos e as formas curvilíneas das figuras.


Ćmielów - figuras femininas, Henryk Jędrasiak, 1959 a 1965, Polónia.

Uma jarra de maiores dimensões, 19 cm por 6 cm,  produzida pela fábrica alemã Lindner, aproxima-se especialmente deste modelo da Coimbra S.P., embora presumivelmente de datação mais tardia.


Jarras Lindner, Kueps Bavaria e Coimbra S.P. © HPS


Jarras Lindner, Kueps Bavaria e Coimbra S.P. © HPS


Jarras Lindner, Kueps Bavaria e Coimbra S.P. © HPS


A Lindner, situada em Kueps, na Baviera, foi fundada por Ernst Lindner em 1929, passando, como muitas outras manufacturas da região, por vários momentos de recessão e prosperidade ao longo das décadas seguintes.
A marca de fábrica da jarra abaixo reproduzida, foi introduzida em 1970, data tardia em que a empresa começou a produzir peças de traçado modernista, abandonando a maioria dos seus modelos antigos com decorações e formatos mais conservadores.  
A introdução de formatos modernos deu novo fôlego à companhia, renovando a clientela de forma a garantir o aumento do volume de vendas. 
O sucesso da Lindner  durou até a reunificação da Alemanha, após a qual se formou a Lindner AG, uma sociedade anónima que procurou sobreviver num contexto onde o número de fábricas em competição pelas quotas de mercado, havia duplicado.
A companhia declarou falência em 2002 e das suas ruínas nasceu a Lindner KG, sob a direcção de um novo proprietário, Werner Gossel, que tentou sem grande sucesso, continuar o negócio.
Na ausência de outros recursos e sem possuir uma página própria na Internet, a empresa tentou ainda vender os seus produtos através do eBay, sendo o seu mais recente catálogo conhecido datado de 2007, embora reproduza exactamente o conteúdo do último catálogo oficial da Lindner, editado em 2001, apenas tendo sido alterada a data.


Jarra Lindner, Kueps Bavaria. © HPS

Jarra Lindner, Kueps Bavaria, detalhe. © HPS

Jarra Lindner, Kueps Bavaria. © HPS

Jarra Lindner, Kueps Bavaria. © HPS

Jarra Lindner, Kueps Bavaria. © HPS

Jarra Lindner, Kueps Bavaria, detalhe. © HPS

Marca de fábrica Lindner, Kueps Bavaria. © HPS

A Lindner desenvolveu vários formatos decorados a preto e branco ou utilizando outras soluções bicolores e monocromáticas, todos eles dominados por linhas curvas e dinâmicas. Na peça abaixo reproduzida, a forma livre e escultórica afasta-se radicalmente dos formatos convencionais de jarras ou vasos, dissociando claramente forma e função.


Jarra Lindner, Kueps Bavaria, modelo 544/2. eBay

Jarra Lindner, Kueps Bavaria, modelo 544/2. eBay

Jarra Lindner, Kueps Bavaria, modelo 544/2. eBay

Marca de fábrica Lindner, Kueps Bavaria, modelo 544/2. eBay






CMP* agradece as informações obtidas nos blogues Moderna uma outra nem tanto, Arte, livros e velharias e Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém, bem como os esclarecimentos prestadas pelo especialista em porcelana Alemã, Christopher Simon Marshall (PM&M).